domingo, 29 de maio de 2016

Super...super...

No ano passado foi anunciado no Hospital onde trabalho que seria implementado (finalmente) um sistema informático e que a instituição avançaria para a era digital! 

Fiquei bastante contente com este investimento, para ser sincera. É muito engraçado notar esta particularidade! Em Portugal, os sistemas informáticos já funcionam há bastante tempo em hospitais e centros de saúde, algo que me surpreendeu ainda não existir por estes lados. Isto tendo em conta a quantidade de coisas burocráticas da vida quotidiana que aqui se trata pela internet. 

Penso que quase todas as minhas colegas têm smartphones e acesso à internet mas pelos vistos só os utilizam para fazerem as compras de mercearia ou comprar roupas e  sapatos. 

Foi todo um enorme drama para esta "gente" este grande paço que a administração tomou. Regra geral os cuidados que passam a existir neste formato passam a ter altas taxas de segurança, de planeamento, de pertinentes listas de coisas a não esquecer, é acessível ao mesmo tempo a vários indivíduos e por aí fora... Dependendo da marca do programa e de como foi pensado é que pode ser ou não mais complicado de se utilizar. 

No intuito de treinar o staff do hospital o melhor possível foi criada uma equipa completamente dedicada ao programa e-care. Foi então pedido aos vários serviços que nomeassem alguns membros para serem a ponte de ligação com esta equipa. Ao longo do ano passado e ainda este ano decorreram inúmeros briefings, aulas e demonstrações em tempo real bem como a oportunidade de usar o novo programa com doentes fictícios. Para estes elementos foi dada a designação de superuser. 

Do pouco que me lembro em Portugal, quando ainda era estudante, ao implementarem o sistema informático no Hospital de Valongo, nomeadamente no serviço de urgência, pude assistir à pouca formação e suporte que os enfermeiros tiveram neste primeiro passo que foi informatizar a admissão de doentes na triagem. Algo que surpreendentemente, ou não, fez com que tudo acabasse por funcionar sem grandes alaridos. Aqui, onde eu pensava que as pessoas se sentiam mais capazes, ouvi grandes e prolongadas reclamações sobre tudo e mais alguma coisa. Até mesmo considerarem mudar de emprego. Foi algo que me apanhou de surpresa pela negativa. Apoio ao staff não faltou, desde programa on-line para treinar, os superusers nos próprios serviços, aos floorwalkers que circulavam entre todos os serviços, departamento informático aberto 24 horas, feedback e indicações diárias sobre o programa e é onde mais se encontraram refilões...ai,ai! 

Fui convidada a fazer parte dessa equipa de superusers e ao longo das sessões ia recebendo alguns tópicos de ajuda para saber lidar com a adversidade que iria encontrar nos primeiros dias de e-care. E foi mesmo preciso! Foi precisa muita perseverança para ajudar pessoas negativas, assustadas e em pânico. Nunca pensei que esta experiência pudesse ser tão humanamente profunda. 

A verdade é que com o passar dos dias, com o treino, com o incentivo para que os pares se envolvessem e perguntassem quando não sabiam algo ou estavam "encravados" em alguma tarefa, deu os seus frutos. 

Já estamos quase há um mês a funcionar em pleno e apesar de não ser perfeito, de ainda surgirem problemas e de ser todo um processo evolutivo já noto as pessoas mais descontraídas e positivas. 

Para mim enquanto superuser foram duas semanas que marcarão o meu currículo para sempre. Senti-me uma pequena peça que faz funcionar uma grande engrenagem...



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