sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sobre a esperança ...

... dos familiares dos utentes. Nos últimos tempos tenho vindo a constatar algumas peculiaridades. Parto de uma posição completamente ingénua e emocional, pois a experiência profissional ainda assim o dita.

O que tenho observado nesses familiares explana-se em: dificuldade em se compreender os processos normais das diferentes doenças, fazer um processo de luto eficaz, gerir expectativas, obter e compreender os factos verdadeiros e reais dos diagnósticos, processar prognósticos.

Esmiuçando um pouco,o que quero explicar é que, de facto, me custa perceber onde está o erro primário que faz com que nós (Equipa de Saúde) tenhamos que lidar com cuidadores, familiares, amigos, etc, envoltos em expectativas e objectivos completamente desajustados da realidade, bem como, por vezes, a sua indignação e revolta face às decisões de equipa e postura dos seus elementos. Disto podem gerar conflitos gigantes entre as várias partes, pode surgir uma má categorização populista sobre a instituição e até aumentar o stress nos prestadores de cuidados formais. 

Como diz o velho adágio popular "água mole em pedra dura...", ou seja, se na minha actividade profissional me catalogarem como má profissional, das duas uma, ou tenho uma colossal auto-confiança ou cedo a essas críticas. 

E voltando atrás, essas particularidades podem estar a ser descontextualizadas se são procedentes de pessoas que não compreendem o nosso papel. 

Muitas vezes na valência em que trabalho, encontramos casos paliativos, que são em particular os que me tocam mais. Ora portanto, nestes casos se adequam os cuidados paliativos (para maior esclarecimento leia o seguinte link), em que o objectivo não passa de todo pelo conceito de curar. Algo muito diferente na doença aguda. 

É então de entender que nesses casos seja necessário que doente e pessoas significativas percebam a realidade do diagnóstico. E no seu processo de luto encontrem na equipa de saúde um alicerce, nessa altura muitas vezes dramática e marcante das suas vidas. Com isto concluo que, destes elementos se espera uma atitude no sentido de cuidar com dignidade e humanidade dentro do que engloba o cuidar da pessoa em fase terminal de vida.

4 comentários:

Blizard Beast disse...

Sabes que o mensageiro das más notícias é sempre o culpado. É o primeiro que aparece.
Dou muito valor ás pessoas que trabalham em medicina. É preciso ser-se muito forte e ser-se frio mesmo não sendo. Eu não seria capaz...

Anónimo disse...

Eu não tinha coragem para uma profissão como a tua... É que não é só tratar das pessoas, acabam por ter também de tratar, de certa forma, dos familiares, em alguns casos...

Lady Candlelight disse...

Blizard B: espero que te refiras à medicina como eu me refiro à "saúde".Enfermagem é bem distinta da Medicina.

Lady Candlelight disse...

Luna eu muitas vezes duvidei se conseguiria...mas parece que afinal até me safo :D hehe